quinta-feira, 6 de março de 2008

O valor da vida...

Uma senhora maltratada, uma inércia e um questionamento.
Hoje passei o dia inteiro relutando em não escrever. O cansaço e o desânimo têm me pegado de jeito nesses últimos dias... acho que a pressão de já ter uma profissão, ou pode ser mesmo noite de sono mal dormida, já que meu colchão está precisando urgente ser trocado. Mas você não está entrando no meu blog para ler o relato do meu dia. É que hoje, como dizia um amigo e ex-chefe, André Portilho, estou sorumbática. Isso é reflexo da cena lastimável que presenciei nessa manhã: uma velhinha sendo maltratada. Não foi uma violência física propriamente dita, mas psicológica.
A cena se deu da seguinte forma: estava minha irmã e eu esperando, já fazia umas duas horas e meia, atendimento para uma consulta oftalmológica em um centro de especialidades de Contagem, lógico que é do SUS. Chegou uma senhora, aparentando ser bem velhinha, doente, caminhando com muita dificuldade e demonstrando enxergar muito pouco. Vestida de calça de moletom cinza, uma blusa de malha azul, sapatilhas molecas, com furinho nos dedões e meinha branca. Pelo volume da calça, por ser muito magrinha, via-se que usava fralda geriátrica. Quando olhei pra mocinha que a ajudava, já não gostei da forma que a conduzia, mas como todo ser egoísta, o que isso me importava. Mas tive que mudar de sala e sentei em frente à velhinha e a moça, que sistematicamente mandava a senhorinha calar a boca.
Uma senhora branquinha com bracinhos frágeis e cheios de hematomas. Claro que também não sou idiota, vi que era da doença. Mas ela tentava coçar o seu braço direito e a mocinha, aparentando uns 18 ou 19 anos, moreninha, olhos mel, barriguinha de fora, blusa de alcinha, sutiã frente-única de silicone, pulseiras nos braços e uma franja mal cortada, que nada combinava com seu cabelo encaracolado, tirava com força a mão da velhinha e dizia: “pára de fazer isso, dá pra ficar ‘queta’ um minuto, pelo amor de Deus”. A velhinha, que mais tarde ouvi, que chamava Lourdes, ficava impaciente e perguntava a todo instante se ia ser internada. A mocinha, que não sei o nome e nem quero saber, às vezes respondia que não, que era só consulta, mas às vezes alterava a voz e dizia: “se você não ficar ‘queta’ vou deixar você aqui pra dá sossego”. A essa altura já tinha perdido toda a concentração no livro que estava lendo. Ao mesmo tempo me perguntava, interfiro, ou não? Não tive coragem, apenas olhei com um olhar fuzilador para a moça, que percebeu e não teve coragem de me olhar de novo.
Uma outra senhora sentou ao lado das duas e segurou a mão de Lourdes e ela foi se acalmando e da boca da mocinha só saía à frase “estou ficando sem paciência”.
Ouvi a moça chamando Lourdes de vó, ou talvez seja bisavó, mas a mocinha ao ser perguntada sobre a idade de sua avó, mandou a resposta com um sorrisinho atrevido: “perguntou pra pessoa errada, acho que deve ser uns 82”. Ouvi ainda que ela quase não ficava com a avó, por que trabalhava e estudava.
Vi por umas três vezes Lourdes tentando morder a neta, quando ela tirava a sua mão que coçava o braço, que nessa altura já começava a minar sangue no local. Mas a mocinha brincou, “pra morder ela precisava ter dentes!” É, dentes ela não tem, mas tem unhas grandes, que a ordinária da neta não é capaz de cortar, já que sabe que a avó pode se ferir. Pena que ela não deu umas unhadas nessa neta mal criada, que precisa de coro e uma verdadeira educação!
Essa explanação da minha manhã, nada agradável, é para colocar aqui o que fiquei pensando. Não tive reação, infelizmente, acho que é o que acontece em muitos casos de violência, a gente sempre espera um pouco mais pra ter certeza do que fazer. E nessa espera, nossas crianças, adolescentes, mulheres, idosos são violentamente maltratados e a gente deixa o problema pra manhã.
Mas a questão do idoso é muito mais séria que isso. Enquanto assistia à cena, pensava se a mocinha não lembrava que daqui a alguns anos, ela também seria uma idosa. Esse comportamento não pode ser aceitável é preciso conscientização, saber avaliar o valor da vida.
As pessoas do século XXI parecem estar tomando aversão a envelhecer, ninguém mais envelhece com dignidade. Não sei sé é por vaidade, preocupação com as rugas, com fato de não quere parecer mais velho, ou medo de viver em um país em que pessoas acima de 40 anos são tratadas como idosos, ou pior que isso, como inválidos. Não há lugar no mercado de trabalho para essa fase da vida, os anos de trabalho prestados não contam, a experiência, a força de vontade, parece que nada disso vale. O que resta é uma aposentadoria vergonhosa, uma saúde pública que não comporta os idosos, sem infra-estrutura adequada, pessoas mal preparadas e o pior, negligência por parte do governo.
A maioria da sociedade não tem noção da abrangência que a questão dos idosos atinge. É preciso que a sociedade e governo pensem em uma solução urgente para esta questão. As mulheres estão cada vez mais preocupadas com a carreira, sucesso profissional e estão deixando a maternidade para cada vez mais tarde, ou mesmo desistindo dela. Não julgo, cada qual sabe o que quer, ou pelo ao menos acha que sabe. Mas o que será do país daqui alguns anos, quando tiver mais idosos que jovens, quem irá pagar as aposentadorias e tantos outros gastos se os mesmos não podem produzir? Quem arcará com o nosso desprezo, com o nosso descomprometimento?
É preciso pensar... e além disso, se você não é velho, provavelmente vai ficar, se não chegar lá é possível que você tenha mãe, pai, avós ou alguém muito próximo que poderá precisar de você, ou você algum dia, poderá precisar de alguém. Que isso não aconteça comigo, ou com você, mas se acontecer, que possamos ser útil e, no fim, poder ter a honra de contar com alguém!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Virgem aos 25

Sou ainda virgem na blogagem (se é que posso escrever assim). Mas como sou jornalista e adoro escrever, digo adoro, mas não sei e ao mesmo tempo não tenho coragem, resolvi me arriscar. Me perdoem algumas bobagens e se deliciem com algo de bom que eu postar...
Mas como aqui não tenho que me subordinar a ninguém, faço o que quiser!!! Engulam...