terça-feira, 25 de novembro de 2008

Saudades

A lua já não brilha com o mesmo brilho...

Hoje estou com saudade
Saudade da saudade que eu sentia,
Saudade da saudade de ter ido à esquina,
Saudade enquanto trabalho, ando, durmo.

Hoje estou com saudade,
Saudade do tempo que a saudade era só um aperitivo,
Saudade da saudade consentida,
Saudade da saudade que sentia...

Hoje eu estou com saudade,
Saudade do tempo em que a saudade nada doía.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A vida em gêneros

Não importa o som, a melodia, o estilo. A música tem que ter sua função, independente de qual seja ela. "A música, entre todas as artes, é a que mais se aproxima desse belo sustenido chamado Deus", disse certa vez Otto Lara Resende. Quem sabe não é mesmo uma forma de Deus nos ouvir?

É impressionante como algumas coisas na vida da gente se confirmam. Hoje pensei em escrever algo que falasse de música, uma das minhas paixões. Aproveitei que estou melosa e como diria um ex-chefe, sorumbática. Mas é que essa semana estou empolgadíssima com a possibilidade de assistir a um show de Frejat e Nando Reis, juntos. Ai, ai.

Pensei nesse texto, enquanto tomava banho, um banho daqueles bem demorado, por causa do cabelo, que eu estava lavando. Ao pensar em uma música, ignorando quase todas do Frejat que não saíam da minha cabeça, lembrei de um funk que ouvi esses dias. Sinceramente não sei o nome e nunca o tinha ouvido antes, mas é de autoria dos MC's Bloco e Bruninho, de Contagem. Por questões pessoais, o nome do Bruno me veio a mente, mas o funk insistentemente ficava em minha cabeça, suprimindo, até mesmo, seu compositor. Deixei todos meus preconceitos de lado e, pensei em falar sobre o tema, quando lembrei de alguns trechos da letra que retrata, tão bem, uma realidade que nos cerca tão de perto.

Acabei o banho. Mais tarde pelo msn, o mesmo MC Bruninho pediu minha ajuda para terminar sua revista sobre funk. É o segundo número, e ele quer caprichar. Vou fazer um merchan pra ele aqui, de leve, é a “Raiz do Funk”. Eu mais que depressa, resolvi ousar e pedi a ele pra escrever um artigo pra revista. Não sei pra quê, talvez para impressionar, sei-lá, para mudar os ares. Já não importa mais. O Bruno, como já me conhece, cheio de temor, me deixou na corda bamba e fez questão de esclarecer que a revista é segmentada e direcionada. Indiferente e com certo medo, mas como jornalista que sou, aceitei o desafio para escrever algo sobre o lado bom do funk.

Mas nessa crônica, como o blog é meu, escrevo o que eu quero. Deixa as regras e formalidades para os especializados. Mas não vou falar mal do funk não, mesmo porque, juízos de valor não cabem a mim. Meu objetivo aqui, é retratar a realidade, o viver social, mostrados em diversas músicas, indiferente de gêneros.

Dia desses, babando pelo Frejat e na possibilidade de assistir ao show, fui para a internet procurar letras de algumas músicas que não sei cantar por inteira (é que detesto não saber cantar as músicas em shows). De repente deparei com a letra de “Homem não chora”, e parei pra analisá-la, outro costume meu, de viajar nas letras das músicas. Analiso tudo, encaixo na minha vida, na dos outros, é a maior neura. Mas a música fala assim: “Homem não chora; nem por dor, nem por amor. E só porque eu estou aqui, ajoelhado no chão, com o coração na mão, não quer dizer que tudo mudou; Meu rosto vermelho e molhado, é só dos olhos pra fora; Todo mundo sabe, que homem não chora”, e assim vai.

A princípio, alguns não entendem nada, para outros pode ser somente mais uma canção melosa. Mas no fundo, retrata uma sociedade mesquinha, machista e cheia de preconceitos. Foi estabalecido que homem não pode sofrer, não pode chorar, não pode amar, não pode ser mole. Tem que ser estátuas, gélidas e inertes. Nos ensinaram que homem expressar sentimentos é feio, desvalorizador e incoerente. Então, com essa visão retrogada, desde cedo, meninos tem que conviver com a realidade de enfrentar tudo, todos os problemas, engolindo a seco, com nó na garganta.

No fundo, Frejat deu um grito. Um alerta contra as forças dominadoras de uma sociedade tão injusta. Mas o que isso tem a ver com o funk? Nada, e tudo. É por que cada um fala daquilo que sente, faz aquilo que sabe. Deus diz que a boca fala, daquilo que o coração está cheio. Não interessa o rítmo, o estilo. Inteligente é quem sabe aproveitar a indústria a favor daquilo que queremos, em nome daquilo que pode acrescentar algo para o bem comum.

Essa inspiração também veio em parte de uma conversa. É que no fim de semana estava de papo com o Pedro, uma querido amigo, sobre músicas. Racionais, Facção, 509 E e MV Bill foram nomes que surgiram como exemplo de revolta, de esperança, de experiências e de sabedoria, quanto ao uso da mídia. Pedro, um fã de hip-hop, me recomendou ouvir a música “Pensamentos” do SNJ. Ouvi. De novo me deparei com a retração de uma realiadade que de tão comum, já se tornou rotineira. Então me lembrei, novamente da música que se tornou a chave desse texto. Hoje, pra terminar essa crônica, ouvi novamente a música, que ainda não sei o nome, e tive, sinceramente, uma grata surpresa, que talvés quem me ouça falar, ache um paradoxo.

Porém, a letra não é só retratação da realidade, mas a forma poética que MC's Bloco e Bruninho deram a letra, merece uma análise bem mais profunda, no jogo que fizeram entre as palavras e os acontecimentos. A música em questão fala de uma Vila em Contagem, sobre a história de um garoto, ou de vários garotos, arrependidos e, ao mesmo tempo, indiferentes, discrentes com o que vivem. A música começa assim: “No Marimbondo a chuva descia, mamãe lavadeira trabalhava em casa de família”... Após alguns trechos, depois de contar sobre as dificuldades enfrentadas, sobre situação de fome, os MC's retratam o que antes era estável, a casa, se desmorona, assim como a vida, “Marimbondo barraco na chuva descia”... o que faz alusão as diversas intempéries que muitas vilas, favelas e conglomerados sofrem com as enchentes e desmoronamentos.

Após contar as crueldades sofridas, a falta de atenção das autoridades, falar sobre a necessidade de políticas públicas, que podem interfirir de forma positiva nessas situações, vem o trecho “ era assim que o moleque dizia, era assim que o moleque falava, no beco da Marimbondo, ao repórter que o entrevistava.... Mais adiante, conta que o menino começou andar armado, porque já tentaram matá-lo, contas as agressões sofridas do pai, um desemprego e alcoolizado. Nesse momento, o moleque já não é mais um menino, mas se torna um adulto, um homem que não chora; se torna um guerreiro; “era assim que o guerreiro dizia, era assim que o guerreiro falava, no beco da Marimbondo, ao repórter que o entrevistava... É o retrato do condicionamento. Muitas veses as esolhas são nossas, outras, escolhem pra gente.
O menino perde perdão e se justifica; “Não tive chance, não nasci herdeiro não, só fiz o que achei certo, peço a Deus o perdão”. Em outro ponto ele fala sobre a mãe e acrescenta, “desculpe Seu doutor, mas se é pra chorar minha mãe, chora a deles primeiro”.

Em resumo, é isso a música. O que me fez lembrar de outro funk, agora do Mc Dodô, que trata da situação de uma prisão: “As chances eram poucas de ver a sua côroa; solidão vai corroendo, carência que destrói por dentro... é linda a juventude que pre-sinto em mim; pois a justiça vem de cima, O Senhor é meu pastor, nada me faltará; pela porta da frente de cabeça erguida, pedi perdão a Deus e vou pregar a vida...

E a ligação com a música do Frejat, que fala de dor de cutuvelo? É a seguinte. Não é por causa da situação em si. Mas pelo condicionamento existente na nossa sociedade. Quando na minha monografia, estudei sobre as obras de MV Bill e Celso Athayde, “Meninos do tráfico”, vivia com os olhos inchados, tocada com os dramas reais. Mas notei, que os dramas existentes, nas várias histórias de periferia, gira em torno de uma mãe, geralmente, adorada pelos filhos envolvidos com algum tipo de crime, da inexistência de um pai, ou um pai problemático, ausente ou viciado; das mães que são arrimo de família, e de um garoto, que se vê obrigado a assumir as responsabilidades da casa. Muitos matam, roubam, traficam, se drogam, tornam-se pais ainda adolescentes, em contraponto com as suas mais duras críticas, mas é impressionante como não perde a veneração pelas mães e nem o temor a Deus, salvo excessões. Os MC’s contaram, em poucos minutos, a realidade de uma vida inteira.

“Quando seu moço nasceu me rebento, não era o momento dele arrebentar; Já foi nascendo com cara de fome e eu não tinha nem nome, prá lhe dar”... Chico já retratou isso a muito tempo. Com tanta carga sobre os jovens, oriundas de uma sociedade sem conteúdo, egoísta, sem amor ao próximo, com oportunidades escassas, realmente homens não choram, não há tempo para isso. Não é porque não sentem vontade de abrir a boca, é que não é permitido. Quando não estão preocupados com seus afazeres, estão preocupados com que os outros homens, os doutores, os outros bandidos, os outros playboys, os outros alcoolizados, os outros pais vão pensar. Desse jeito, realmente, meu rosto vermelho e molhado não é pelo choro, deve ser pela vergonha de dar tanta explicação a uma sociedade que não nos dá escolhas.

E as músicas, que bom ver que retratam isso, enquanto fogem da banalidade, da sensualidade exacerbada. É muito bom ouvir uma música, com uma letra consciente, uma melodia bonita, combinações de tantos fatores, tais como frustrações, amores, expectativas. Guerras, brigas, desavenças, falta de esperança, já ta cheio o mundo. Que Brunos, Blocos, Dodôs, Frejats, Bills e tantos outros, vejam a música sempre como possibilidade de se abrirem, de propor mudanças, de pregar a boa convivência. Se conseguirem isso, já fizeram sua parte.

E quanto ao show, pra minha tristeza não consegui confirmar... snif, snif...

Ah! Isso foi ontem. Hoje confirmei, vai ter show sim... Iupiiiiiii, to lá!!!!


terça-feira, 11 de novembro de 2008

A dama e o vagabundo. Será que rola?

Quando uma tia se muda com seus gatos para a casa de Dama, a cachorrinha passa a usar uma focinheira. Despertando um desejo de liberdade, Dama é atraída pelo charme irresistível de Vagabundo, um cachorro que perambula pelas ruas da cidade. Com seus novos amigos eles vivem aventuras repletas de suspense, quando Dama descobre o verdadeiro significado de ser livre.
Essa historinha da Disney se aplica hoje consideravelmente....

Agora dei pra falar sobre as relações sociais. É foda, quando a gente cisma com alguma coisa. Mas ontem, passando pela Avenida Olegário Maciel, sentada, quieta, no banco do carona do carro de um dos meus chefes, ao olhar para a calçada, me deparei com um cara linnnnndo. Ele esperava para atravessar, um verdadeiro deus do Olimpo. Estatura mediana, loiro, cabelo semi-despenteado, um cara muito simpático. Meu pescoço ficou na calçada, enquanto meu chefe desenvolvia o carro. Na hora veio em minha cabeça a expressão “vem cá benzinho”, muito comum nos meus pensamentos. Mas a alusão a frase é porque pensei na hora, se não é assim que os homens se comportam, na maioria das vezes, quando vê uma mulher nas mesmas proporções.

No momento que ouvi, internamente a expressão que usei, lembrei de Vivian, a personagem de Julia Roberts, no aclamado filme “Uma linda mulher”. A garota de programa, ao ser dispensada dos seus “serviços”, se vê envolvida emocionalmente com seu cliente, Edward Lewis, personagem de Richard Gere. A garota recebe uma proposta de morar em um apartamento pago por ele, pra ficar a sua disposição.

Sentindo-se insultada e magoada, Vivian solta: “quando era criança, sonhava que ficava presa em uma torre, e aparecia um príncipe, em um cavalo branco, empunhava uma espada e me salvava. Mas nos meus sonhos ele nunca dizia: vem cá benzinho que eu vou te colocar num belo apê”. Bom, quem assistiu ao filme, aposto que quase todo mundo, já sabe o fim.

Mas essa historinha, momento nostalgia, passou pela minha mente em questão de segundos. Foi nesse momento que analisei como se dão as relações sociais, no cotidiano e surrealmente na indústria da mídia.

Hoje a retratação da realidade é muita usada em filmes. Uma realidade cruel, dura, fria. Mas de onde surgem fatos como o de Vivian, que é salva pelo seu príncipe? De onde surge Edwards, príncipes lindos, gentis, carinhosos, que salvam as muitas Vivians que tem por aí? É por isso que gosto de filmes com happy and. É estranho pensar que entre milhares de pessoas, histórias como essas podem acontecer, mas em um número cada vez menor.

Sinto que o tempo vai passando, as raças, credos, etnias, vão todas se misturando cada vez mais, mas os preconceitos, os jogos de interesses, os medos ainda são os mesmos e cresce com o desenvolvimento demográfico. Elis Regina interpretou uma música de Belchior que representa muito bem o que quero dizer: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não... você pode até dizer que eu estou por fora, ou então que eu estou inventando, mas é você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem... minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como nossos pais...”

É uma música tão antiga, mas tão atual. Quando penso no loiro da rua, no príncipe da Vivian, em como se dão as relações, vejo que mantemos ainda, tantos princípios e preconceitos dos nossos pais. Mas vejo também, que muitos deles nós perdemos, tais como, a gentileza, o comprometimento, o cuidado, o carinho, a atenção para com o próximo, a confiabilidade.

As relações da modernidade se baseiam em jogos de interesses, em conceitos banais, em insegurança, em falta de carinho. Os negros continuam se relacionando com negros, pobres com pobres, e assim por diante. Quando há relacionamentos que diferem desse modelo estabelecido, surgem as perguntas: como assim? Aqueles dois? É interesse... ou, será o que aconteceu? São tantas especulações que enfraquecem, ainda mais, as relações de confiança e abalam a estabilidade, antes bem estruturada do nosso psicológico. Como seria possível hoje, um Edward se casar com uma Vivian, sem medo, sem pudor, sem preocupação e em nome da felicidade?

É engraçado, que agora escrevendo esse texto, estou com o msn aberto, em off, como sempre. Mas senti vontade de falar um oi para um querido, que está se tornando um novo amigo. Ele chateado, acabou de dizer que não está bem. Pedi a ele pra se abrir comigo. Na mesma hora ele me deu mais uma pílula amarga da modernidade. “Tenho colegas, mas amigo mesmo nenhum. Já pisaram muito na bola, não dá pra confiar”. Fez até eu rir e ao mesmo tempo, deu uma vontade de chorar. Isso não é problema do meu amigo, nem meu, nem do meu vizinho. É um problema nosso, que precisamos, não nos adaptar, mas querer mudar.

Nossas escolhas somos nós que fazemos. Cabe, a cada um, escolher como viver. Se queremos protagonizar o teatro da vida, ou passar o resto do nosso tempo, assistindo a vida acontecer pela fresta da cortina.

Por hoje já chega! Acho que mudei muito o foco inicial do texto. Estou cansada e sem inspiração. Daqui a pouco levo pro lado pessoal. Antes que isso aconteça, encerro. Não meus argumentos, meus pensamentos e minha vontade imensa de mudar, de sacudir todos, de fazer tudo ficar bem. E falando em ficar bem, Anderson, meu amigo, dedico esse texto a você. Vai ficar tudo bem... Quando você ficar triste, que seja por um dia e não o ano inteiro, e que você descubra que rir é bom... e muito bom, como diria Frejat.

Vivas as diferenças e o resgate ao amor e da boa convivência!