sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Relações da modernidade idiota

"Vou-me embora pra Pasárgada... Lá sou amigo do rei... Lá tenho a mulher que eu quero... Na cama que escolherei... Tomarei banhos de mar!E quando estiver cansado... Deito na beira do rio... Mando chamar a mãe-d'água... Pra me contar as histórias... Que no tempo de eu menino... Rosa vinha me contar"... (Manuel Bandeira) Oh! saudade da época que viver era mais simples!


Hoje resolvi voltar a escrever. Pra falar a verdade, sempre escrevo, mas é tudo técnico. Hoje me deu vontade de escrever o que eu sinto, o que acho, rascunhos dos meus pensamento e que cabem aqui, no meu blog.

Estou aqui para falar das relações humanas. Meu Deus, como isso tem se tornado cada dia mais complicado. Não há mais relações espontâneas, mas jogos de interesses, de egos, de quem faz o outro sofrer mais ou menos.

No momento em que escrevo, tento falar ao telefone com alguém, que insiste em não me atender. O motivo? Vai saber... Não dá pra entender a cabeça de ninguém nessa era tão freneticamente moderna.

Certa vez, Renato Russo, nosso falecido poeta disse sabiamente: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". E não é que mais uma vez ele tinha razão. O que se percebe é que os relacionamentos tem se perdido nas burocracias sociais, nas conveniências. Não pode ligar para ele mais de duas vezes no dia, você vai parecer chata. Perguntar onde o outro foi, está fora de cogitação e querer saber com quem ele falava ao telefone?É completa demonstração de insegurança. Porra! Não dá pra viver seguindo tantas regras, é se perder demais. Eu quero não estar nem aí, para essas coisas.

Se eu gosto, eu quero mesmo é falar com ele várias vezes ao dia, mesmo que seja só um oi. Querer saber onde ele foi, e isso não é controlá-lo, muitas vezes é só uma forma de fazer os fechados e sisudos homens modernos, falarem um pouco de como foi o dia, demonstrar o que fizeram.


A sociedade tem complicado cada dia mais as relações. São muitos palpites, muitas regras infalíveis, receitas imbatíveis de como ser mais louco. Dias desses lançou no cinema o filme “Ensaio sobre a cegueira”, baseado no livro do mestre Saramago. Estou ensaiando, sem trocadilhos, assisti-lo, mas as perturbações da vida moderna, não têm me permitido tal fato. Acho que também estou com medo de ver retratado, em tamanho cinematográfico um pouco da minha vida, do meu mundo.

Padrões pré-estabelecidos têm munido a sociedade de hipocrisias, de falsos pudores e caráter. As mulheres têm que ser perfeitas, com bundas firmes, seios fartos e boca marcada. Os abdomens masculinos super definidos, e as carteiras sempre bem abastecidas. Os flertes são feitos da mesma forma, tudo robótico, assim como as relações tem se dado nesse tempo. Não há mais fidelidade, nem aos antigos princípios familiares.

A cegueira é realmente quem tem dominado as relações. Confiar já não é atitude digna de pessoas espertas, dizem uns. Depender de outra pessoa? Está fora de cogitação! É claro que precisamos estar bem conosco, ser feliz com a nossa companhia, ser capaz de estar sozinha e ficar bem. Mas ser só é muito triste. Não há como viver sem confiar, sem amar, sem ter alguém ao lado para incentivar, para contar um segredo ou pedir um conselho. É tão bom amar. Chega da ditadura do “eu sozinho consigo”. Não nascemos para ser só. Estamos é vivendo uma cegueira branca, fruto da falta de contestação dos padrões que nos impõem, sabe se lá quem. Talvez nós mesmos, hipócritas e egoístas.

Fala sério! Bom mesmo é amar, seja um amigo, seja a mãe, seja um companheiro. Bom é comer pipoca junto no cinema, tomar um bibi’s frapê no mesmo copo, andar de mão dada, ligar no meio do dia só pra dizer que está pensando nele.

Antes ser uma idiota, que ser infeliz, disse certa vez Arnaldo Jabor, um sábio em matéria de relações. Antes perder depois de aproveitar, que viver com a dura dúvida da incerteza. Parece piegas? E é, mas e daí? Chega de crueldade com nosso coração, com nosso próximo, com nosso mundo. Vamos resgatar a gentileza, o amor, a reciprocidade.

Tentando, errando, amando, eu vou seguindo... assim mesmo, cheio de gerúndismo, para dar sensação de seqüência... melhor assim, do que ter que conviver com a covardia de nunca amar, de nunca lutar, de nunca confiar.

Chega! É muito desamor...
“Usde ad terminum”

Hoje eu voltei a vida....

Hoje, após muito tempo, na sexta-feira da comemoração americana de Halloween, resolvi soltar todas as minhas bruxas.

Chega de conviver com medo, com frustações, com ansiedades...

Como diz Jabor, a vida é uma peça que não permite ensaios.... Portanto é preciso, ao menos tentar viver bem!

Estou de volta!!!!!