quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Guerra as putinhas

Hoje estou mortal, se morder meus lábios, me enveneno. Melhor escrever, fere menos.


Hoje precisei correr ao psiquiatra. Surtei mesmo. Tremia tanto que não me aguentava de pé.

O doutor, um tanto quanto assustado, com aquela cara ímpar dos psiquiatras, mais loucos que os pacientes, me indagou: O que aconteceu meu filha? Com a voz embargada pelo ódio e com sangue nos olhos respondi: Doutor estou com horror a puta.

Ele assustado, sem entender, questionou: Como assim, não entendi?
Ódio doutor, do tipo com vontade de matar todas. Por isso vim até aqui, pro doutor me internar, se não mato todas e mato ainda todos os sacanas que se deitam com elas.

Ele arregalou os olhos e me perguntou: O que te fizeram elas? A mim, diretamente nada, se eu bem sei. Não estou com raiva das putas oficiais não doutor, daquelas que são profissionais e ganham a vida assim não. Essas, pra falar a verdade, eu até as admiro, sabem bem levar a vida. Odeio são as putas de instinto. As putas com cara de anjinho, de boquinhas de porcelana. Arrrrrrrhhhh, como eu as odeio doutor. Ficam lá, fazendo pose de santinhas, cara do tipo que vão coroar Nossa Senhora, mas não valem nada, nadinha mesmo.

O doutor: Minha filha, não seja radical.
Não seja radical doutor. Entra no Orkut pro senhor ver. Lá é um verdadeiro bordel, tem putinhas de todas as idades e estilos, pra todos os ‘babãos’ se esbaldarem. Os nomes são tipo assim: “angels”, “princess”, “lindukas”, “manhosa”, “gatinhas”, “rebolation” e assim por diante. O perfil parece versos de Nelson Rodrigues. Um bando de depravadinhas, sem vergonha, iludindo a cabeça dos babacas.

É cada uma pior que a outra. Assim como na página de classificados, o Orkut, o MSN, o facebook viraram classificados de vadiazinhas, menininhas de boa família que se vendem na net. Vontade de matar todas. Zeca Pagodinho já dizia: “Fingindo inocente, toda saliente, vem me olhando diferente, chego a estremecer”... e assim por diante. Saco! To com muito ódio dessa nova raça de puta. Morte a todas elas: Declarei. Vou criar uma campanha e vou chamar as putas de verdade. “Morte as putinhas”, quero ver todas liquidadas. Elas, os homens que se encantam por elas e as redes que as compõem.

Saudade sabe doutor, da época que a conquista era coisa boa. Que o primeiro beijo era de levantar o pé e o beijinho no pescoço era sem intenção. Essas vacas estão matando isso tudo. E sinceramente, a gente que já vai encaminhando pra casa dos 30n estamos perdidas, sem saber como agir. Os homens acham que nunca envelhecem, e continuam indo atrás de qualquer rabinho de saia, das velhas novas ninfetas. E aquela velha história; "Desde que uma mulher tenha brilho nos olhos, nenhum homem irá reparar se ela tem rugas em volta deles" não fazem mais sucesso nem em livros. Velhas baboseiras...

Olhei para o doutor, com a minha vista ainda, um tanto quanto embaraçada. Notei uma expressão de vergonha na face corada, tesa, e já cheias de pelos brancos. O que foi doutor? Perguntei. Minha filha. Ele entrelaçou os braços em volta do meu ombro e me encaminhou até o divã.

Percebo sua angustia, sua aflição e até mesmo sua raiva. Enquanto você falava, passava pela minha cabeça diversas cenas. Lembranças de quando conquistei minha esposa, e olha que já sou casado há 30 anos, lembrei do sorvete, das flores, da mão de leve no joelho e do beijo no ombro. Lembrei também, e te confesso, até um pouco sem graça e envergonhado, das muitas putinhas que dei bola e comi. Na escola das minhas filhas, na sala da minha casa, até mesmo aqui nesse consultório. Penso agora, que era muito melhor quando as putas ficavam somente nos cabarés e bordéis. Elas não ameaçavam casamentos e nem relacionamentos. Não ameaçavam nossa conta bancária, nem nossa estrutura psicológica. Mas acho que já estamos todos contaminados, a salvação está em nossa atitude, e só.

Ele chamou a enfermeira, me deu um calmante e disse: descanse um pouco, vai te fazer bem, a cabeça de uma mulher de quase 30 maquina coisas que ninguém é capaz de decifrar e entender. Quando você acordar, se sentirá melhor. O mundo ainda será o mesmo, mas você já agirá diferente.

Enquanto ele falava, sua voz me embalava e o sono chegava. Mas pude ainda ouvir ele mandando a sua secretária enviar flores a sua esposa e bombons as suas filhas, e ainda pude ouvir de longe, quase já em sonho sua declaração pesarosa, feliz, arrependida, ainda apaixonado e muito maduro: “Amor, o tempo passou, você hoje tem rugas que não tinha, manias que se despertaram, defeitos que não mudaram. Mas o meu amor por você tem aumentado a cada dia, a cada atenção, a cada cuidado...

Acordei mais de uma hora depois. Ainda sonolenta, olhei para ele e vi um leve sorriso em seus lábios: Tchau, ele disse. Volte depois e muito obrigado.

Dei um sorriso de leve, quase choroso e vim escrever e compartilhar com vocês este post. Ainda estou tonta por causa do “sossega leão”. A vontade insana de matar aplacou. Mas cá pra nós. Tenho razão, não é mesmo?
Até mais.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Quando as cortinas não se abrem


Acabei de acender um cigarro.
Enquanto dou uma tragada sôfrega, volto os olhos para a brasa que queima, aos poucos e lentamente o papel branco, o fumo e todas as coisas que lá estão. Consumo-o aos poucos, enquanto de gole em gole, sugo a vodka pura que está em meu copo, quente, forte e ardente, assim como está o meu peito hoje.

Jogada no sofá, com o braço estendido na almofada e cabeça curvada sobre o encosto, consigo ver ainda, a chama das velas a queimarem sobre a mesa. Peças do jantar que não se encenou. Encho de novo o copo, quase sem forças, e dou mais tragada em meu cigarro, com aquele gosto de pavor misturado ao mentolado daquela desgraça. O cigarro, a minha vida e o porre que está se iniciando.

Olho de novo para a mesa. Os dois lugares, as velas, os pratos, as taças e o vazio. Foda-se! Penso. Mas era justamente isso que era para ser. Uma fodeção total, regada a vinho, beijos e ao molho madeira com palmito e champinhom que ainda cobre a carne na travessa.

Tento olhar indiferente para o cenário montado atras de mim. A garganta é apertada por um nó. Um nós seco, misturado a fumaça, a vodka, ao choro que não quer sair. As velas queimam, e também queima a minha garganta com mais um gole, e ai!, queima meu dedo com o cigarro. Filho da puta! O filtro cai, sem coragem de levantar, apenas piso para apagá-lo. Coisa horrorosa de se ver. Mas hoje é assim, estou completamente fora dos padrões.

Foda-se tudo! As velas, o vinho, o molho madeira e até o palmito. Enquanto isso, tomo mais trago da vodka. Terceiro copo. A cabeça roda, e roda com ela as imagens, o espetáculo que não aconteceu, os beijos que não vieram, seu rosto refletido na vodka. O corpo fica pesado, a cabeça se despende mais para o lado. Quase já não enxergo o cenário, nem mesmo a luz das velas, nem a cor vermelha das pétalas espalhadas pelo chão.

Ouço a sua voz. Pissiu, silêncio! Ouço, ouço mesmo, assim, baixinho. Ouço também meu coração, chorando, acelerado. Respiro fundo e grito pra você: fala mais alto! Nada! O último gole do copo, despejo o resto do meu corpo no sofá e nada... fala de novo, só mais uma vez, por favor, suplico e nada. Me agito. Apenas um estrondo, a garrafa cai e se quebra. Pronto, quebrou tudo, a anestesia, o sonho, quebrou a esperança de te ver encenando mais uma vez comigo aquela dança. Sem força, os olhos se fecham. Amanhã é aguentar a dor, principalmente, a de cabeça.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"Rodrigar"

Não há pessoa que eu admire mais, que eu ame mais ou seje mais apaixonada intelectualmente. Amigo como ele é impar. Pena que ta lá na "terrinha", tão longe. Volte logo Sat.


Chatice! Deixa eu "rodrigar". o que era pra ser não foi. Culpa da culpa. Falta da falta. Perdem-se lágrimas, atiram-se chaves. Batem-se portas e calam-se. Mundo do silêncio, da angústia, de tantas coisas separadas por paredes e perfis na Internet. Faz-se pão e iogurtes. Abrem-se livros e teses. Não há nada. Servimos bacalhau com manjercão e copos de vinho. Bebemos na cara do inimigo. Peidamos. o Galo ganha. Mas é domingo. Podia ser praia, mas é blog. Podia ser cerveja, mas é água. Podia ser droga, mas é chocolote. Podia ser paz, mas é insatisfação. Costura-se para fora. Vende-se comida e sexo para fora. Não há delivery, não há números invertidos nem cuspe. Não há. Há o que? Há aulas, há trabalho, há espera, há o há. Mas podia nem existir. Ainda bem que há. Mas é leve, levedado, crescido pela força, pela química, pelo bolor. Podia ser 980 euros, mais ainda não é. Podia ser em novembro, mas talvez seja em dezembro. Podia acabar, mas tem que continuar. Podia te fuder, mas não há ereção, não há porra, não há. Mas há vida. Há sim.

Rodrigo Saturnino, para seu blog: http://nossoopiodecadadia.blogspot.com

Aquele que dá vida, também mata

O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera. Não se exaspera, não se ensoberbece, não sente ressente do mal... 1Co.


Quem disse que amor não mata? Mata sim. Mata mais que arma de fogo, ou arma branca.
Amor mata as certezas, os sonhos, os planos. Mata o cachorrinho, o gato, o passarinho e até os filinhos. Mata as baratas do seu ralo, as traças do seu armário, os cupins dos seus móveis, mesmo antes de você os tê-los.

O amor mata desejos, sabores, chatice, ciúme, rotina. Mata tudo.
Entra macio, silencioso, surdo, afiado como um punhal. Entra fundo, rente, pressionado, e ninguém nota, a princípio. Um filete de sangue escorre, lento, contínuo. Um grito abafado, um gemido escuro, uma secura na boca e uma nuvem nos olhos faz o prenuncio: eis a morte.

Morre tudo. Não há mais futuro. Não há brigas, também não há carinho, nem champanhe, nem charuto, nem cerveja na nossa geladeira, nem sticks no forno, frango na panela, nem o jogo do domingo. Não há mais ronco, nem baforada no pescoço, nem joelhada na noite, nem conchinha. Não há grito, nem beijo de boa noite, nem voz mansa, nem grito de burra.

Mata tudo. O mesmo amor que cria, mata. Mata, porque não há como amar sozinho, nem aos poucos, nem pela metade, nem só uma partinha. Vai se embora as noites, os dias, os domingos de feirinha, o sol que entra pela janela sem cortina. Acaba a enrolação na cama, o sorriso de bom dia! O amor que te fez pular, dançar sem música, rir a toa ou chorar de alegria, te põe agora mesmo, em uma lápide fria, sozinha, cheirando a mofo e naftalina.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Voz Do Silêncio

"Não adoto a prática de cópias no meu blog. Mas esse texto da Martha merece mesmo está aqui hoje. Tudo o que eu mais quero é uma voz..."

A Voz Do Silêncio

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem

Martha Medeiros

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Doação

Doar: Ceder gratuitamente a outrem...


Ser doador em vida chega a ser engraçado.
Você dá uma parte de você para uma outra pessoa viver um pouco melhor.
Ela vive, e você que doou vive também.
As vidas se misturam. Um pedaço de você tá lá, outro tá com você ainda, ou nem tanto.

Aí eu pergunto: quem vive com uma parte sua, torna-se você também?
Acho que sim. Doei uma parte de mim. Uma parte vital. Vivia muito bem sem ela.
Ele, que recebeu, também vivia bem com ela, pelo ao menos, achava eu.Mas de repente começou a tão temida rejeição, pânico de todo transplantado.
Os medicamentos já não são suficientes. Os médicos avisaram que quando a rejeição é muita, é preciso de um novo transplante.

Mas quando a rejeição começou nele, a parte em mim onde o que foi doado foi retirado, começou a sangrar. Assim, sem mais nem menos. E não quer mais parar.
Para piorar, a parte que doei e foi rejeitada por ele, já não pode ser devolvida a mim.
Ele então a retirou, por causa da sua rejeição. Como meu corpo já não a recebe de volta, estou sem saber o que fazer.

A certeza é que ele encontrará outra doadora, assim, com certa facilidade. A minha dúvida é: e eu? A minha parte entreguei a ele, e ela já não encaixa de volta. Bem, uma parte do corpo, fora dele, não tem serventia. Então com certeza, ele a vai jogar no lixo, assim, meio sem jeito, mas vai pro descarte.

Só que agora, o lugar não para de sangrar mesmo. Não há também nada que possa encaixar no lugar. É preciso parar de sangrar. Mas o médico já me desenganou: “Sua parte doada vivia porque ele a alimentava, agora, que já não é mais alimentada, ela vai morrer”.

A certeza que tenho agora é que ela vai morrer, mas eu ainda não, a parte de onde ela foi retirada vai coagular, uma hora vai ter que parar de sangrar. Mas já fui alertada. Vou virar zumbi, porque o que tinha de mais essencial em mim, foi o que doei e mesmo cicatrizado, acabou, vai ficar vazio. Já não dá pra viver e nem mesmo morrer eu vou conseguir.

Mas fica aqui a dica: apesar de tudo, a doação é necessária. Se pudesse voltar atrás, doava de novo. Se hoje, meu coração nele foi rejeitado, valeu pelo tempo em que bateu em seu peito, forte e com vigor. Então hoje, ao ver meu peito sangrar e meus olhos se anuviarem, fecho os olhos e sinto seu peito encostado ao meu, e a lembrança das batidas me acalmam e faz com que eu consiga viver mais um dia, assim, sem graça, sorumbático, mas... viver ainda é necessário.