quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aquele que dá vida, também mata

O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera. Não se exaspera, não se ensoberbece, não sente ressente do mal... 1Co.


Quem disse que amor não mata? Mata sim. Mata mais que arma de fogo, ou arma branca.
Amor mata as certezas, os sonhos, os planos. Mata o cachorrinho, o gato, o passarinho e até os filinhos. Mata as baratas do seu ralo, as traças do seu armário, os cupins dos seus móveis, mesmo antes de você os tê-los.

O amor mata desejos, sabores, chatice, ciúme, rotina. Mata tudo.
Entra macio, silencioso, surdo, afiado como um punhal. Entra fundo, rente, pressionado, e ninguém nota, a princípio. Um filete de sangue escorre, lento, contínuo. Um grito abafado, um gemido escuro, uma secura na boca e uma nuvem nos olhos faz o prenuncio: eis a morte.

Morre tudo. Não há mais futuro. Não há brigas, também não há carinho, nem champanhe, nem charuto, nem cerveja na nossa geladeira, nem sticks no forno, frango na panela, nem o jogo do domingo. Não há mais ronco, nem baforada no pescoço, nem joelhada na noite, nem conchinha. Não há grito, nem beijo de boa noite, nem voz mansa, nem grito de burra.

Mata tudo. O mesmo amor que cria, mata. Mata, porque não há como amar sozinho, nem aos poucos, nem pela metade, nem só uma partinha. Vai se embora as noites, os dias, os domingos de feirinha, o sol que entra pela janela sem cortina. Acaba a enrolação na cama, o sorriso de bom dia! O amor que te fez pular, dançar sem música, rir a toa ou chorar de alegria, te põe agora mesmo, em uma lápide fria, sozinha, cheirando a mofo e naftalina.

Nenhum comentário: