quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Frágil vida...

Viver não é tão fácil, mas pode ser mais simples!

Hoje resolvi falar da fragilidade da vida... após umas horas do meu dia, refletindo em um cemitério, enquanto presenciava um velório. Uma mulher tão nova, um filho deixado sem mãe, mais novo ainda.

Enquanto respirava o ar tranqüilo, morbido, vazio do Parque da Colina, meus olhos marejavam pensando nas coisas que deixamos passar, nos sorrisos que não emitimos, nos beijos e abraços que deixamos de dar, do conselho perdido, da ternura que escondemos. São tantas as coisas que deixamos de fazer, tantas atitudes que deixamos de tomar, embalados pela correria do dia-a-dia, do cansaço ou ate mesmo pelo comodismo da convivência, da rotina.

Pra que vou dar um beijo agora, de noite eu dou! Nossa, ele é muito chato, depois eu ligo! Agora não dá pra falar, estou ocupada, depois conversamos... e assim os dias passam, a juventude fica pra trás e muitas vezes não nos atentamos para o fato, que as pessoas que amamos podem ser retiradas da gente, seja um dia por um acaso, seja pela temida e solitária morte.

Na maioria das vezes só sentimos falta, quando perdemos. Temos o costume de achar que coisas ruins não acontecem conosco, só acontece com os outros. Que nunca iremos sofrer com a perda, ou que jamais sentiremos falta de uma palavra, de um gesto, de um toque ou de um simples olhar. Mas que pode significar tudo.

Mas talvez, o que precisamos enxergar primeiro é a falta que podemos fazer pra gente mesmo. Falta de amar, te ter a atenção de alguém, de poder dar carinho a alguém. Tudo nesse mudo é mútuo e como a lei da física, toda ação tem uma reação. Por isso, mesmo que não notem seu amor, seu carinho, sua atenção, dispense-os do mesmo jeito. Se amanha, você perder uma pessoa muito importante, essencial, ao menos saberá que você foi pra ela, tudo que poderia ter sido.

O amor faz bem pra quem recebe, mas faz mais bem ainda, pra quem o dá!!!!!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Saudades

A lua já não brilha com o mesmo brilho...

Hoje estou com saudade
Saudade da saudade que eu sentia,
Saudade da saudade de ter ido à esquina,
Saudade enquanto trabalho, ando, durmo.

Hoje estou com saudade,
Saudade do tempo que a saudade era só um aperitivo,
Saudade da saudade consentida,
Saudade da saudade que sentia...

Hoje eu estou com saudade,
Saudade do tempo em que a saudade nada doía.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A vida em gêneros

Não importa o som, a melodia, o estilo. A música tem que ter sua função, independente de qual seja ela. "A música, entre todas as artes, é a que mais se aproxima desse belo sustenido chamado Deus", disse certa vez Otto Lara Resende. Quem sabe não é mesmo uma forma de Deus nos ouvir?

É impressionante como algumas coisas na vida da gente se confirmam. Hoje pensei em escrever algo que falasse de música, uma das minhas paixões. Aproveitei que estou melosa e como diria um ex-chefe, sorumbática. Mas é que essa semana estou empolgadíssima com a possibilidade de assistir a um show de Frejat e Nando Reis, juntos. Ai, ai.

Pensei nesse texto, enquanto tomava banho, um banho daqueles bem demorado, por causa do cabelo, que eu estava lavando. Ao pensar em uma música, ignorando quase todas do Frejat que não saíam da minha cabeça, lembrei de um funk que ouvi esses dias. Sinceramente não sei o nome e nunca o tinha ouvido antes, mas é de autoria dos MC's Bloco e Bruninho, de Contagem. Por questões pessoais, o nome do Bruno me veio a mente, mas o funk insistentemente ficava em minha cabeça, suprimindo, até mesmo, seu compositor. Deixei todos meus preconceitos de lado e, pensei em falar sobre o tema, quando lembrei de alguns trechos da letra que retrata, tão bem, uma realidade que nos cerca tão de perto.

Acabei o banho. Mais tarde pelo msn, o mesmo MC Bruninho pediu minha ajuda para terminar sua revista sobre funk. É o segundo número, e ele quer caprichar. Vou fazer um merchan pra ele aqui, de leve, é a “Raiz do Funk”. Eu mais que depressa, resolvi ousar e pedi a ele pra escrever um artigo pra revista. Não sei pra quê, talvez para impressionar, sei-lá, para mudar os ares. Já não importa mais. O Bruno, como já me conhece, cheio de temor, me deixou na corda bamba e fez questão de esclarecer que a revista é segmentada e direcionada. Indiferente e com certo medo, mas como jornalista que sou, aceitei o desafio para escrever algo sobre o lado bom do funk.

Mas nessa crônica, como o blog é meu, escrevo o que eu quero. Deixa as regras e formalidades para os especializados. Mas não vou falar mal do funk não, mesmo porque, juízos de valor não cabem a mim. Meu objetivo aqui, é retratar a realidade, o viver social, mostrados em diversas músicas, indiferente de gêneros.

Dia desses, babando pelo Frejat e na possibilidade de assistir ao show, fui para a internet procurar letras de algumas músicas que não sei cantar por inteira (é que detesto não saber cantar as músicas em shows). De repente deparei com a letra de “Homem não chora”, e parei pra analisá-la, outro costume meu, de viajar nas letras das músicas. Analiso tudo, encaixo na minha vida, na dos outros, é a maior neura. Mas a música fala assim: “Homem não chora; nem por dor, nem por amor. E só porque eu estou aqui, ajoelhado no chão, com o coração na mão, não quer dizer que tudo mudou; Meu rosto vermelho e molhado, é só dos olhos pra fora; Todo mundo sabe, que homem não chora”, e assim vai.

A princípio, alguns não entendem nada, para outros pode ser somente mais uma canção melosa. Mas no fundo, retrata uma sociedade mesquinha, machista e cheia de preconceitos. Foi estabalecido que homem não pode sofrer, não pode chorar, não pode amar, não pode ser mole. Tem que ser estátuas, gélidas e inertes. Nos ensinaram que homem expressar sentimentos é feio, desvalorizador e incoerente. Então, com essa visão retrogada, desde cedo, meninos tem que conviver com a realidade de enfrentar tudo, todos os problemas, engolindo a seco, com nó na garganta.

No fundo, Frejat deu um grito. Um alerta contra as forças dominadoras de uma sociedade tão injusta. Mas o que isso tem a ver com o funk? Nada, e tudo. É por que cada um fala daquilo que sente, faz aquilo que sabe. Deus diz que a boca fala, daquilo que o coração está cheio. Não interessa o rítmo, o estilo. Inteligente é quem sabe aproveitar a indústria a favor daquilo que queremos, em nome daquilo que pode acrescentar algo para o bem comum.

Essa inspiração também veio em parte de uma conversa. É que no fim de semana estava de papo com o Pedro, uma querido amigo, sobre músicas. Racionais, Facção, 509 E e MV Bill foram nomes que surgiram como exemplo de revolta, de esperança, de experiências e de sabedoria, quanto ao uso da mídia. Pedro, um fã de hip-hop, me recomendou ouvir a música “Pensamentos” do SNJ. Ouvi. De novo me deparei com a retração de uma realiadade que de tão comum, já se tornou rotineira. Então me lembrei, novamente da música que se tornou a chave desse texto. Hoje, pra terminar essa crônica, ouvi novamente a música, que ainda não sei o nome, e tive, sinceramente, uma grata surpresa, que talvés quem me ouça falar, ache um paradoxo.

Porém, a letra não é só retratação da realidade, mas a forma poética que MC's Bloco e Bruninho deram a letra, merece uma análise bem mais profunda, no jogo que fizeram entre as palavras e os acontecimentos. A música em questão fala de uma Vila em Contagem, sobre a história de um garoto, ou de vários garotos, arrependidos e, ao mesmo tempo, indiferentes, discrentes com o que vivem. A música começa assim: “No Marimbondo a chuva descia, mamãe lavadeira trabalhava em casa de família”... Após alguns trechos, depois de contar sobre as dificuldades enfrentadas, sobre situação de fome, os MC's retratam o que antes era estável, a casa, se desmorona, assim como a vida, “Marimbondo barraco na chuva descia”... o que faz alusão as diversas intempéries que muitas vilas, favelas e conglomerados sofrem com as enchentes e desmoronamentos.

Após contar as crueldades sofridas, a falta de atenção das autoridades, falar sobre a necessidade de políticas públicas, que podem interfirir de forma positiva nessas situações, vem o trecho “ era assim que o moleque dizia, era assim que o moleque falava, no beco da Marimbondo, ao repórter que o entrevistava.... Mais adiante, conta que o menino começou andar armado, porque já tentaram matá-lo, contas as agressões sofridas do pai, um desemprego e alcoolizado. Nesse momento, o moleque já não é mais um menino, mas se torna um adulto, um homem que não chora; se torna um guerreiro; “era assim que o guerreiro dizia, era assim que o guerreiro falava, no beco da Marimbondo, ao repórter que o entrevistava... É o retrato do condicionamento. Muitas veses as esolhas são nossas, outras, escolhem pra gente.
O menino perde perdão e se justifica; “Não tive chance, não nasci herdeiro não, só fiz o que achei certo, peço a Deus o perdão”. Em outro ponto ele fala sobre a mãe e acrescenta, “desculpe Seu doutor, mas se é pra chorar minha mãe, chora a deles primeiro”.

Em resumo, é isso a música. O que me fez lembrar de outro funk, agora do Mc Dodô, que trata da situação de uma prisão: “As chances eram poucas de ver a sua côroa; solidão vai corroendo, carência que destrói por dentro... é linda a juventude que pre-sinto em mim; pois a justiça vem de cima, O Senhor é meu pastor, nada me faltará; pela porta da frente de cabeça erguida, pedi perdão a Deus e vou pregar a vida...

E a ligação com a música do Frejat, que fala de dor de cutuvelo? É a seguinte. Não é por causa da situação em si. Mas pelo condicionamento existente na nossa sociedade. Quando na minha monografia, estudei sobre as obras de MV Bill e Celso Athayde, “Meninos do tráfico”, vivia com os olhos inchados, tocada com os dramas reais. Mas notei, que os dramas existentes, nas várias histórias de periferia, gira em torno de uma mãe, geralmente, adorada pelos filhos envolvidos com algum tipo de crime, da inexistência de um pai, ou um pai problemático, ausente ou viciado; das mães que são arrimo de família, e de um garoto, que se vê obrigado a assumir as responsabilidades da casa. Muitos matam, roubam, traficam, se drogam, tornam-se pais ainda adolescentes, em contraponto com as suas mais duras críticas, mas é impressionante como não perde a veneração pelas mães e nem o temor a Deus, salvo excessões. Os MC’s contaram, em poucos minutos, a realidade de uma vida inteira.

“Quando seu moço nasceu me rebento, não era o momento dele arrebentar; Já foi nascendo com cara de fome e eu não tinha nem nome, prá lhe dar”... Chico já retratou isso a muito tempo. Com tanta carga sobre os jovens, oriundas de uma sociedade sem conteúdo, egoísta, sem amor ao próximo, com oportunidades escassas, realmente homens não choram, não há tempo para isso. Não é porque não sentem vontade de abrir a boca, é que não é permitido. Quando não estão preocupados com seus afazeres, estão preocupados com que os outros homens, os doutores, os outros bandidos, os outros playboys, os outros alcoolizados, os outros pais vão pensar. Desse jeito, realmente, meu rosto vermelho e molhado não é pelo choro, deve ser pela vergonha de dar tanta explicação a uma sociedade que não nos dá escolhas.

E as músicas, que bom ver que retratam isso, enquanto fogem da banalidade, da sensualidade exacerbada. É muito bom ouvir uma música, com uma letra consciente, uma melodia bonita, combinações de tantos fatores, tais como frustrações, amores, expectativas. Guerras, brigas, desavenças, falta de esperança, já ta cheio o mundo. Que Brunos, Blocos, Dodôs, Frejats, Bills e tantos outros, vejam a música sempre como possibilidade de se abrirem, de propor mudanças, de pregar a boa convivência. Se conseguirem isso, já fizeram sua parte.

E quanto ao show, pra minha tristeza não consegui confirmar... snif, snif...

Ah! Isso foi ontem. Hoje confirmei, vai ter show sim... Iupiiiiiii, to lá!!!!


terça-feira, 11 de novembro de 2008

A dama e o vagabundo. Será que rola?

Quando uma tia se muda com seus gatos para a casa de Dama, a cachorrinha passa a usar uma focinheira. Despertando um desejo de liberdade, Dama é atraída pelo charme irresistível de Vagabundo, um cachorro que perambula pelas ruas da cidade. Com seus novos amigos eles vivem aventuras repletas de suspense, quando Dama descobre o verdadeiro significado de ser livre.
Essa historinha da Disney se aplica hoje consideravelmente....

Agora dei pra falar sobre as relações sociais. É foda, quando a gente cisma com alguma coisa. Mas ontem, passando pela Avenida Olegário Maciel, sentada, quieta, no banco do carona do carro de um dos meus chefes, ao olhar para a calçada, me deparei com um cara linnnnndo. Ele esperava para atravessar, um verdadeiro deus do Olimpo. Estatura mediana, loiro, cabelo semi-despenteado, um cara muito simpático. Meu pescoço ficou na calçada, enquanto meu chefe desenvolvia o carro. Na hora veio em minha cabeça a expressão “vem cá benzinho”, muito comum nos meus pensamentos. Mas a alusão a frase é porque pensei na hora, se não é assim que os homens se comportam, na maioria das vezes, quando vê uma mulher nas mesmas proporções.

No momento que ouvi, internamente a expressão que usei, lembrei de Vivian, a personagem de Julia Roberts, no aclamado filme “Uma linda mulher”. A garota de programa, ao ser dispensada dos seus “serviços”, se vê envolvida emocionalmente com seu cliente, Edward Lewis, personagem de Richard Gere. A garota recebe uma proposta de morar em um apartamento pago por ele, pra ficar a sua disposição.

Sentindo-se insultada e magoada, Vivian solta: “quando era criança, sonhava que ficava presa em uma torre, e aparecia um príncipe, em um cavalo branco, empunhava uma espada e me salvava. Mas nos meus sonhos ele nunca dizia: vem cá benzinho que eu vou te colocar num belo apê”. Bom, quem assistiu ao filme, aposto que quase todo mundo, já sabe o fim.

Mas essa historinha, momento nostalgia, passou pela minha mente em questão de segundos. Foi nesse momento que analisei como se dão as relações sociais, no cotidiano e surrealmente na indústria da mídia.

Hoje a retratação da realidade é muita usada em filmes. Uma realidade cruel, dura, fria. Mas de onde surgem fatos como o de Vivian, que é salva pelo seu príncipe? De onde surge Edwards, príncipes lindos, gentis, carinhosos, que salvam as muitas Vivians que tem por aí? É por isso que gosto de filmes com happy and. É estranho pensar que entre milhares de pessoas, histórias como essas podem acontecer, mas em um número cada vez menor.

Sinto que o tempo vai passando, as raças, credos, etnias, vão todas se misturando cada vez mais, mas os preconceitos, os jogos de interesses, os medos ainda são os mesmos e cresce com o desenvolvimento demográfico. Elis Regina interpretou uma música de Belchior que representa muito bem o que quero dizer: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não... você pode até dizer que eu estou por fora, ou então que eu estou inventando, mas é você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem... minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como nossos pais...”

É uma música tão antiga, mas tão atual. Quando penso no loiro da rua, no príncipe da Vivian, em como se dão as relações, vejo que mantemos ainda, tantos princípios e preconceitos dos nossos pais. Mas vejo também, que muitos deles nós perdemos, tais como, a gentileza, o comprometimento, o cuidado, o carinho, a atenção para com o próximo, a confiabilidade.

As relações da modernidade se baseiam em jogos de interesses, em conceitos banais, em insegurança, em falta de carinho. Os negros continuam se relacionando com negros, pobres com pobres, e assim por diante. Quando há relacionamentos que diferem desse modelo estabelecido, surgem as perguntas: como assim? Aqueles dois? É interesse... ou, será o que aconteceu? São tantas especulações que enfraquecem, ainda mais, as relações de confiança e abalam a estabilidade, antes bem estruturada do nosso psicológico. Como seria possível hoje, um Edward se casar com uma Vivian, sem medo, sem pudor, sem preocupação e em nome da felicidade?

É engraçado, que agora escrevendo esse texto, estou com o msn aberto, em off, como sempre. Mas senti vontade de falar um oi para um querido, que está se tornando um novo amigo. Ele chateado, acabou de dizer que não está bem. Pedi a ele pra se abrir comigo. Na mesma hora ele me deu mais uma pílula amarga da modernidade. “Tenho colegas, mas amigo mesmo nenhum. Já pisaram muito na bola, não dá pra confiar”. Fez até eu rir e ao mesmo tempo, deu uma vontade de chorar. Isso não é problema do meu amigo, nem meu, nem do meu vizinho. É um problema nosso, que precisamos, não nos adaptar, mas querer mudar.

Nossas escolhas somos nós que fazemos. Cabe, a cada um, escolher como viver. Se queremos protagonizar o teatro da vida, ou passar o resto do nosso tempo, assistindo a vida acontecer pela fresta da cortina.

Por hoje já chega! Acho que mudei muito o foco inicial do texto. Estou cansada e sem inspiração. Daqui a pouco levo pro lado pessoal. Antes que isso aconteça, encerro. Não meus argumentos, meus pensamentos e minha vontade imensa de mudar, de sacudir todos, de fazer tudo ficar bem. E falando em ficar bem, Anderson, meu amigo, dedico esse texto a você. Vai ficar tudo bem... Quando você ficar triste, que seja por um dia e não o ano inteiro, e que você descubra que rir é bom... e muito bom, como diria Frejat.

Vivas as diferenças e o resgate ao amor e da boa convivência!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Relações da modernidade idiota

"Vou-me embora pra Pasárgada... Lá sou amigo do rei... Lá tenho a mulher que eu quero... Na cama que escolherei... Tomarei banhos de mar!E quando estiver cansado... Deito na beira do rio... Mando chamar a mãe-d'água... Pra me contar as histórias... Que no tempo de eu menino... Rosa vinha me contar"... (Manuel Bandeira) Oh! saudade da época que viver era mais simples!


Hoje resolvi voltar a escrever. Pra falar a verdade, sempre escrevo, mas é tudo técnico. Hoje me deu vontade de escrever o que eu sinto, o que acho, rascunhos dos meus pensamento e que cabem aqui, no meu blog.

Estou aqui para falar das relações humanas. Meu Deus, como isso tem se tornado cada dia mais complicado. Não há mais relações espontâneas, mas jogos de interesses, de egos, de quem faz o outro sofrer mais ou menos.

No momento em que escrevo, tento falar ao telefone com alguém, que insiste em não me atender. O motivo? Vai saber... Não dá pra entender a cabeça de ninguém nessa era tão freneticamente moderna.

Certa vez, Renato Russo, nosso falecido poeta disse sabiamente: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". E não é que mais uma vez ele tinha razão. O que se percebe é que os relacionamentos tem se perdido nas burocracias sociais, nas conveniências. Não pode ligar para ele mais de duas vezes no dia, você vai parecer chata. Perguntar onde o outro foi, está fora de cogitação e querer saber com quem ele falava ao telefone?É completa demonstração de insegurança. Porra! Não dá pra viver seguindo tantas regras, é se perder demais. Eu quero não estar nem aí, para essas coisas.

Se eu gosto, eu quero mesmo é falar com ele várias vezes ao dia, mesmo que seja só um oi. Querer saber onde ele foi, e isso não é controlá-lo, muitas vezes é só uma forma de fazer os fechados e sisudos homens modernos, falarem um pouco de como foi o dia, demonstrar o que fizeram.


A sociedade tem complicado cada dia mais as relações. São muitos palpites, muitas regras infalíveis, receitas imbatíveis de como ser mais louco. Dias desses lançou no cinema o filme “Ensaio sobre a cegueira”, baseado no livro do mestre Saramago. Estou ensaiando, sem trocadilhos, assisti-lo, mas as perturbações da vida moderna, não têm me permitido tal fato. Acho que também estou com medo de ver retratado, em tamanho cinematográfico um pouco da minha vida, do meu mundo.

Padrões pré-estabelecidos têm munido a sociedade de hipocrisias, de falsos pudores e caráter. As mulheres têm que ser perfeitas, com bundas firmes, seios fartos e boca marcada. Os abdomens masculinos super definidos, e as carteiras sempre bem abastecidas. Os flertes são feitos da mesma forma, tudo robótico, assim como as relações tem se dado nesse tempo. Não há mais fidelidade, nem aos antigos princípios familiares.

A cegueira é realmente quem tem dominado as relações. Confiar já não é atitude digna de pessoas espertas, dizem uns. Depender de outra pessoa? Está fora de cogitação! É claro que precisamos estar bem conosco, ser feliz com a nossa companhia, ser capaz de estar sozinha e ficar bem. Mas ser só é muito triste. Não há como viver sem confiar, sem amar, sem ter alguém ao lado para incentivar, para contar um segredo ou pedir um conselho. É tão bom amar. Chega da ditadura do “eu sozinho consigo”. Não nascemos para ser só. Estamos é vivendo uma cegueira branca, fruto da falta de contestação dos padrões que nos impõem, sabe se lá quem. Talvez nós mesmos, hipócritas e egoístas.

Fala sério! Bom mesmo é amar, seja um amigo, seja a mãe, seja um companheiro. Bom é comer pipoca junto no cinema, tomar um bibi’s frapê no mesmo copo, andar de mão dada, ligar no meio do dia só pra dizer que está pensando nele.

Antes ser uma idiota, que ser infeliz, disse certa vez Arnaldo Jabor, um sábio em matéria de relações. Antes perder depois de aproveitar, que viver com a dura dúvida da incerteza. Parece piegas? E é, mas e daí? Chega de crueldade com nosso coração, com nosso próximo, com nosso mundo. Vamos resgatar a gentileza, o amor, a reciprocidade.

Tentando, errando, amando, eu vou seguindo... assim mesmo, cheio de gerúndismo, para dar sensação de seqüência... melhor assim, do que ter que conviver com a covardia de nunca amar, de nunca lutar, de nunca confiar.

Chega! É muito desamor...
“Usde ad terminum”

Hoje eu voltei a vida....

Hoje, após muito tempo, na sexta-feira da comemoração americana de Halloween, resolvi soltar todas as minhas bruxas.

Chega de conviver com medo, com frustações, com ansiedades...

Como diz Jabor, a vida é uma peça que não permite ensaios.... Portanto é preciso, ao menos tentar viver bem!

Estou de volta!!!!!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sexo, sociedade e desejo - Um grande lugar-comum

Esse é o cenário descrito no livro Sexo de André Sant’ana.
Um livro memorável que trata de assuntos triviais, como o próprio título sugere.
Vale a pena ser lido...


André usa no seu texto uma forma pouco convencional de dirigir-se aos personagens. Ao invés de dar nomes, utiliza suas características, o que confere à trama um sentido amplo. Não focaliza somente uma pessoa, aquele personagem em si, mas todas as pessoas com as mesmas características, as várias personagens da vida real.
André traz no livro uma reflexão sobre a futilidade em que a vida pode se tornar. Mostra que as pessoas tentam viver de aparências e que independentemente da classe social, raça e sexo, o ser humano vive em torno do mesmo núcleo chamado desejo. Ricos, pobres, gordos, pretos, loiros, estudados ou analfabetos, todos tem no sexo uma fonte de prazer ou escape. Todos procuram no sexo um momento de relaxamento, autoconfirmação ou mesmo extravasão, perdendo muitas vezes, todos os pudores.
O autor brinca com a monotonia do cotidiano, fazendo do jogo de repetição dos nomes ou nomenclaturas, uma saga cíclica, que expõe através dessa forma de escrita o comportamento cotidiano, padronizado da sociedade, de como o ser humano é vil e recheado de falsos pudores, de falsos padrões, vivendo sob estereótipos. Exemplo disso são todos os jovens executivos, presentes no livro. Eles usam os mesmos tipos de roupas, compradas nas mesmas lojas, os mesmos tipos de carros, freqüentam os mesmos lugares, como se fosse uma estratégia para reforçar seu posicionamento. Assim como os executivos mais velhos, que usam óculos de grifes famosas, viajam para os mesmos lugares por recomendação de outras pessoas na mesma posição social, vivem casamentos de fachada, relacionamentos frustrados, que os obrigam a procurar diversão extraconjugal, até mesmo com suas subordinadas.
O texto é de uma ironização formidável, que só ganha clareza se o leitor tiver espírito crítico. Caso contrário corre o risco de considerar o livro chato e cansativo e de não entender o tom sarcástico usado por André, que reforça que todo ser humano é igual na hora do desejo sexual. Todos querem obedecer a seus instintos, sexo selvagem, seja com seu parceiro ou com formas alternativas. O autor deixa claro que, quase sempre, sexo não está ligado com amor, e muitas vezes é usado como uma nova experiência em busca de um prazer ainda não conhecido, caso da Secretária Loura Bronzeada Pelo Sol. Ou casos comuns da perda do desejo pela parceira, como é caso do Marcelo, marido da Jovem Mãe de Róseos Mamilos, um dos únicos personagens que recebe nome no livro, talvez por quebrar a regra de não se submeter-se à obrigação do casamento. Caso também do Executivo de Óculos Ray-Ban que após perder o desejo pela sua esposa com Mais de Quarenta, precisa fantasiar sexo com atrizes para tentar cumprir seu papel de marido, ou o Encarregado da Firma que por estar abaixo dos níveis sociais impostos, se vê obrigado a transar com a Gorda que Cheira Perfume Avon para satisfazer seus instintos.
O livro demonstra também, a vontade de agradar o parceiro, como acontece com Esposa com Mais de Quarenta, ao permitir-se sexo anal com seu marido, e tenta parecer espontânea. Ou as jovens noivas loiras, dos jovens executivos, que aceitam o sexo anal aos prantos, e deixa quebrar a visão social de boa moça. Exemplifica as dúvidas e os medos, como é o caso dos jovens meio-hippies ao sentirem obrigados a transarem pela primeira vez, o que acarreta a perda da primeira paixão após uma primeira transa frustrada, problemas resultantes da falta de diálogo, que em nenhum momento prevalece, que não consegue superar as curiosidades e os problemas, obrigando-os a buscarem orientações em revistas, independente de idade e classe.
Aborda também, o interesse financeiro que vira paixão, como é o caso da Apresentadora Loira do Programa de Variedades, que após transar, acaba por apaixonar-se pelo Negro que Não Fedia, mas que antes fedia, que mostra que mudança é questão de oportunidade e esforço, quando ele se transforma em um famoso cantor de reggae.
Aponta a questão da estética, ditada nas relações, que submete as pessoas fora dos estereótipos e dos padrões ditados pela sociedade, a procurem se satisfazer da forma que conseguem, caso da Gorda que Cheirava Perfume Avon e do Encarregado da Firma. O lado dos fetiches, que podem ser mirabolantes aos olhos da sociedade, tendo exemplo como o do Japonês da IBM, que gosta de se masturbar olhando revistas de mulheres muito gordas nuas, atitude que poderia tornar-se inaceitável ante o seu meio, de bem-sucedidos e inteligentes. A paixão e a mudança de atitude diante da vida, como aconteceu com o Negro que Fedia e a Cobradora do Ônibus no qual ele Negro que Fedia Voltava Para a Casa Todos os Dias Às Seis Horas da Tarde, que para se permitirem ao prazer precisam da aceitação e da orientação de uma força que julgam maior do que sua insignificância.
Todas estas e outras complexas situações estão contidas em menos de cem páginas, apenas com citações dos atos sexuais de cada personagem.
André Sant’ana soube usar a palavra da melhor forma para discutir a banalidade que é a vida, sem citar detalhes, diálogos complexos, apenas referindo-se ao cotidiano de algumas pessoas, estereótipos de uma sociedade ditadora de regras e modos, que pode representar grande parte do mundo. Sociedade hipócrita, sagaz, que trata seu povo com mãos de ferro e acima de tudo com prisão da personalidade.

quinta-feira, 6 de março de 2008

O valor da vida...

Uma senhora maltratada, uma inércia e um questionamento.
Hoje passei o dia inteiro relutando em não escrever. O cansaço e o desânimo têm me pegado de jeito nesses últimos dias... acho que a pressão de já ter uma profissão, ou pode ser mesmo noite de sono mal dormida, já que meu colchão está precisando urgente ser trocado. Mas você não está entrando no meu blog para ler o relato do meu dia. É que hoje, como dizia um amigo e ex-chefe, André Portilho, estou sorumbática. Isso é reflexo da cena lastimável que presenciei nessa manhã: uma velhinha sendo maltratada. Não foi uma violência física propriamente dita, mas psicológica.
A cena se deu da seguinte forma: estava minha irmã e eu esperando, já fazia umas duas horas e meia, atendimento para uma consulta oftalmológica em um centro de especialidades de Contagem, lógico que é do SUS. Chegou uma senhora, aparentando ser bem velhinha, doente, caminhando com muita dificuldade e demonstrando enxergar muito pouco. Vestida de calça de moletom cinza, uma blusa de malha azul, sapatilhas molecas, com furinho nos dedões e meinha branca. Pelo volume da calça, por ser muito magrinha, via-se que usava fralda geriátrica. Quando olhei pra mocinha que a ajudava, já não gostei da forma que a conduzia, mas como todo ser egoísta, o que isso me importava. Mas tive que mudar de sala e sentei em frente à velhinha e a moça, que sistematicamente mandava a senhorinha calar a boca.
Uma senhora branquinha com bracinhos frágeis e cheios de hematomas. Claro que também não sou idiota, vi que era da doença. Mas ela tentava coçar o seu braço direito e a mocinha, aparentando uns 18 ou 19 anos, moreninha, olhos mel, barriguinha de fora, blusa de alcinha, sutiã frente-única de silicone, pulseiras nos braços e uma franja mal cortada, que nada combinava com seu cabelo encaracolado, tirava com força a mão da velhinha e dizia: “pára de fazer isso, dá pra ficar ‘queta’ um minuto, pelo amor de Deus”. A velhinha, que mais tarde ouvi, que chamava Lourdes, ficava impaciente e perguntava a todo instante se ia ser internada. A mocinha, que não sei o nome e nem quero saber, às vezes respondia que não, que era só consulta, mas às vezes alterava a voz e dizia: “se você não ficar ‘queta’ vou deixar você aqui pra dá sossego”. A essa altura já tinha perdido toda a concentração no livro que estava lendo. Ao mesmo tempo me perguntava, interfiro, ou não? Não tive coragem, apenas olhei com um olhar fuzilador para a moça, que percebeu e não teve coragem de me olhar de novo.
Uma outra senhora sentou ao lado das duas e segurou a mão de Lourdes e ela foi se acalmando e da boca da mocinha só saía à frase “estou ficando sem paciência”.
Ouvi a moça chamando Lourdes de vó, ou talvez seja bisavó, mas a mocinha ao ser perguntada sobre a idade de sua avó, mandou a resposta com um sorrisinho atrevido: “perguntou pra pessoa errada, acho que deve ser uns 82”. Ouvi ainda que ela quase não ficava com a avó, por que trabalhava e estudava.
Vi por umas três vezes Lourdes tentando morder a neta, quando ela tirava a sua mão que coçava o braço, que nessa altura já começava a minar sangue no local. Mas a mocinha brincou, “pra morder ela precisava ter dentes!” É, dentes ela não tem, mas tem unhas grandes, que a ordinária da neta não é capaz de cortar, já que sabe que a avó pode se ferir. Pena que ela não deu umas unhadas nessa neta mal criada, que precisa de coro e uma verdadeira educação!
Essa explanação da minha manhã, nada agradável, é para colocar aqui o que fiquei pensando. Não tive reação, infelizmente, acho que é o que acontece em muitos casos de violência, a gente sempre espera um pouco mais pra ter certeza do que fazer. E nessa espera, nossas crianças, adolescentes, mulheres, idosos são violentamente maltratados e a gente deixa o problema pra manhã.
Mas a questão do idoso é muito mais séria que isso. Enquanto assistia à cena, pensava se a mocinha não lembrava que daqui a alguns anos, ela também seria uma idosa. Esse comportamento não pode ser aceitável é preciso conscientização, saber avaliar o valor da vida.
As pessoas do século XXI parecem estar tomando aversão a envelhecer, ninguém mais envelhece com dignidade. Não sei sé é por vaidade, preocupação com as rugas, com fato de não quere parecer mais velho, ou medo de viver em um país em que pessoas acima de 40 anos são tratadas como idosos, ou pior que isso, como inválidos. Não há lugar no mercado de trabalho para essa fase da vida, os anos de trabalho prestados não contam, a experiência, a força de vontade, parece que nada disso vale. O que resta é uma aposentadoria vergonhosa, uma saúde pública que não comporta os idosos, sem infra-estrutura adequada, pessoas mal preparadas e o pior, negligência por parte do governo.
A maioria da sociedade não tem noção da abrangência que a questão dos idosos atinge. É preciso que a sociedade e governo pensem em uma solução urgente para esta questão. As mulheres estão cada vez mais preocupadas com a carreira, sucesso profissional e estão deixando a maternidade para cada vez mais tarde, ou mesmo desistindo dela. Não julgo, cada qual sabe o que quer, ou pelo ao menos acha que sabe. Mas o que será do país daqui alguns anos, quando tiver mais idosos que jovens, quem irá pagar as aposentadorias e tantos outros gastos se os mesmos não podem produzir? Quem arcará com o nosso desprezo, com o nosso descomprometimento?
É preciso pensar... e além disso, se você não é velho, provavelmente vai ficar, se não chegar lá é possível que você tenha mãe, pai, avós ou alguém muito próximo que poderá precisar de você, ou você algum dia, poderá precisar de alguém. Que isso não aconteça comigo, ou com você, mas se acontecer, que possamos ser útil e, no fim, poder ter a honra de contar com alguém!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Virgem aos 25

Sou ainda virgem na blogagem (se é que posso escrever assim). Mas como sou jornalista e adoro escrever, digo adoro, mas não sei e ao mesmo tempo não tenho coragem, resolvi me arriscar. Me perdoem algumas bobagens e se deliciem com algo de bom que eu postar...
Mas como aqui não tenho que me subordinar a ninguém, faço o que quiser!!! Engulam...