terça-feira, 11 de novembro de 2008

A dama e o vagabundo. Será que rola?

Quando uma tia se muda com seus gatos para a casa de Dama, a cachorrinha passa a usar uma focinheira. Despertando um desejo de liberdade, Dama é atraída pelo charme irresistível de Vagabundo, um cachorro que perambula pelas ruas da cidade. Com seus novos amigos eles vivem aventuras repletas de suspense, quando Dama descobre o verdadeiro significado de ser livre.
Essa historinha da Disney se aplica hoje consideravelmente....

Agora dei pra falar sobre as relações sociais. É foda, quando a gente cisma com alguma coisa. Mas ontem, passando pela Avenida Olegário Maciel, sentada, quieta, no banco do carona do carro de um dos meus chefes, ao olhar para a calçada, me deparei com um cara linnnnndo. Ele esperava para atravessar, um verdadeiro deus do Olimpo. Estatura mediana, loiro, cabelo semi-despenteado, um cara muito simpático. Meu pescoço ficou na calçada, enquanto meu chefe desenvolvia o carro. Na hora veio em minha cabeça a expressão “vem cá benzinho”, muito comum nos meus pensamentos. Mas a alusão a frase é porque pensei na hora, se não é assim que os homens se comportam, na maioria das vezes, quando vê uma mulher nas mesmas proporções.

No momento que ouvi, internamente a expressão que usei, lembrei de Vivian, a personagem de Julia Roberts, no aclamado filme “Uma linda mulher”. A garota de programa, ao ser dispensada dos seus “serviços”, se vê envolvida emocionalmente com seu cliente, Edward Lewis, personagem de Richard Gere. A garota recebe uma proposta de morar em um apartamento pago por ele, pra ficar a sua disposição.

Sentindo-se insultada e magoada, Vivian solta: “quando era criança, sonhava que ficava presa em uma torre, e aparecia um príncipe, em um cavalo branco, empunhava uma espada e me salvava. Mas nos meus sonhos ele nunca dizia: vem cá benzinho que eu vou te colocar num belo apê”. Bom, quem assistiu ao filme, aposto que quase todo mundo, já sabe o fim.

Mas essa historinha, momento nostalgia, passou pela minha mente em questão de segundos. Foi nesse momento que analisei como se dão as relações sociais, no cotidiano e surrealmente na indústria da mídia.

Hoje a retratação da realidade é muita usada em filmes. Uma realidade cruel, dura, fria. Mas de onde surgem fatos como o de Vivian, que é salva pelo seu príncipe? De onde surge Edwards, príncipes lindos, gentis, carinhosos, que salvam as muitas Vivians que tem por aí? É por isso que gosto de filmes com happy and. É estranho pensar que entre milhares de pessoas, histórias como essas podem acontecer, mas em um número cada vez menor.

Sinto que o tempo vai passando, as raças, credos, etnias, vão todas se misturando cada vez mais, mas os preconceitos, os jogos de interesses, os medos ainda são os mesmos e cresce com o desenvolvimento demográfico. Elis Regina interpretou uma música de Belchior que representa muito bem o que quero dizer: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não... você pode até dizer que eu estou por fora, ou então que eu estou inventando, mas é você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem... minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como nossos pais...”

É uma música tão antiga, mas tão atual. Quando penso no loiro da rua, no príncipe da Vivian, em como se dão as relações, vejo que mantemos ainda, tantos princípios e preconceitos dos nossos pais. Mas vejo também, que muitos deles nós perdemos, tais como, a gentileza, o comprometimento, o cuidado, o carinho, a atenção para com o próximo, a confiabilidade.

As relações da modernidade se baseiam em jogos de interesses, em conceitos banais, em insegurança, em falta de carinho. Os negros continuam se relacionando com negros, pobres com pobres, e assim por diante. Quando há relacionamentos que diferem desse modelo estabelecido, surgem as perguntas: como assim? Aqueles dois? É interesse... ou, será o que aconteceu? São tantas especulações que enfraquecem, ainda mais, as relações de confiança e abalam a estabilidade, antes bem estruturada do nosso psicológico. Como seria possível hoje, um Edward se casar com uma Vivian, sem medo, sem pudor, sem preocupação e em nome da felicidade?

É engraçado, que agora escrevendo esse texto, estou com o msn aberto, em off, como sempre. Mas senti vontade de falar um oi para um querido, que está se tornando um novo amigo. Ele chateado, acabou de dizer que não está bem. Pedi a ele pra se abrir comigo. Na mesma hora ele me deu mais uma pílula amarga da modernidade. “Tenho colegas, mas amigo mesmo nenhum. Já pisaram muito na bola, não dá pra confiar”. Fez até eu rir e ao mesmo tempo, deu uma vontade de chorar. Isso não é problema do meu amigo, nem meu, nem do meu vizinho. É um problema nosso, que precisamos, não nos adaptar, mas querer mudar.

Nossas escolhas somos nós que fazemos. Cabe, a cada um, escolher como viver. Se queremos protagonizar o teatro da vida, ou passar o resto do nosso tempo, assistindo a vida acontecer pela fresta da cortina.

Por hoje já chega! Acho que mudei muito o foco inicial do texto. Estou cansada e sem inspiração. Daqui a pouco levo pro lado pessoal. Antes que isso aconteça, encerro. Não meus argumentos, meus pensamentos e minha vontade imensa de mudar, de sacudir todos, de fazer tudo ficar bem. E falando em ficar bem, Anderson, meu amigo, dedico esse texto a você. Vai ficar tudo bem... Quando você ficar triste, que seja por um dia e não o ano inteiro, e que você descubra que rir é bom... e muito bom, como diria Frejat.

Vivas as diferenças e o resgate ao amor e da boa convivência!

Um comentário:

Anônimo disse...

Sheila

Gostei. Muito bacana!!Parabéns..

É isso mesmo. Uma hora dá certo....



Beijo grande

Valéria Flores (Hoje em Dia)