quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Quando Ela chega

Quando Ela chega, não há nada o que fazer.
Destronando toda nossa soberania, sem medo, rancor, êxito ou qualquer remorso, ela nos toma o que há de mais precioso.

Agora, parada diante dela, pego a pensar com lágrimas nos olhos, em tudo que se fez e principalmente, em tudo o que não fizemos.

Quantos sorrisos não dados, afagos não roubados, ligações não completadas, visitas prometidas. Quanto correria, naufrago no embrulhar da vida. Assim os dias passam, nossa infância ficou lá trás, bem distante, tão longe que já não há resquícios da nossa tão doce, simples e suave felicidade. Saudades da meninice, das brincadeiras, das velhas amizades, do meu velho tempo a tarde.

São planos, metas, desejos, sonhos. Muitos apenas são, e nunca hão de se concretizar. Eles nos consomem em uma briga louca, frenética em busca de algo que muitas vezes nem sabemos o que é. Mas vamos e, lutamos e, corremos agitados de um lado para o outro, sem parar, sem amar, sem brincar, sem relaxar.

Diante Dela paro, chocada, arrependida, receosa, amedrontada. Com tanto medo. Medo de não ir adiante, de correr atrás de algo que não vale nada, de nem sequer saber pra onde ir.

Ela me olha, com olhar escancarado, frio, imóvel, imutável. Não se mexe, não se agita e espera a sua hora. Faz tudo calculado, objetivado, tudo tão certinho. Um certinho a mim, tão amargo.

Sentada aqui, de frente ao PC me recordo dos meus tempos de menina, de garota legal. Como fiquei amarga, chata, adulta, desconfiada, premeditada.

Quero ser de novo leve. Poder aproveitar melhor as amizades, a boa companhia, ler meus livros prediletos, beijar mais meu namorado, ter mais tempo pra minha família.

Quero voltar a ser criança. Não na regressão da vida, mas na leveza do viver. Quero rir de novo como ela, dançar de frente ao espelho ou na janela. Não me importar com muito pouco, ou quase nada. Fecho os olhos e ouço o som da gargalhada, as palmas estampidas, os tapas espalmados, lembro do Feio, do Léo, do Andinho. Do nossos momentos.

Com a vida, bem acho que não aprendi ainda nada. Mas frente Ela, vejo que preciso aprender, aprender muito, muito mesmo com Ela, com a morte, para melhor viver a vida.


“Homenagem a minha grande e eterna amiga Gisele, ou Gisa, como era chamada. Uma amiga de tantos anos, de tantos gritos, de tantos trucos e tantas gargalhadas. Que por eu não saber viver a vida, convivi nos últimos anos sem a sua constante alegria. Não tive coragem de a ver deitada. Foi sim, pura covardia. Mas de uma pessoa como ela, quero guardar somente a alegria.

Que o Senhor conforte os que ficaram. Te amo Gisa, pra sempre...”
26 de novembro de 2009.

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