terça-feira, 7 de julho de 2009

Cansaço

Sim, estou cansado, e um pouco sorridente, de o cansaço ser só isto...


Acho que já estou cansada...
É isso que sinto, um cansaço na alma. Uma sensação de sufocamento. Não sei mais o que fazer, como agir, e olha que sempre fui boa nisso. Sempre tive respostas, sou a rainha dos bons conselhos, das saídas emergências, menos pra minha vida.

Mas nesse momento não sou nada. Não agüento mais buscar aprovação, eu não dou mais conta. Cansei de tentar ser a boazinha, de ser a conselheira, a boa filha, boa neta, excelente prima, exemplar irmã. Quero ser só eu, só eu. Com minhas dúvidas, fraquezas e incertezas, que nesse momento são muitas...

Sempre achei que precisavam de mim... horrendo engano. Eu mesma é que precisei acreditar nisso. E hoje isso está doendo.

Primeira neta por um lado, segunda por outro. Fui a mais branca, a que tinha o cabelo melhor, a mais inteligente, pelo ao menos achavam, e cresci precisando ser exemplo. Fui a melhor na escola, a que ensinava para-casa, a que aprendia melhor o jogo, fui a primeira e até agora a única a me formar em uma faculdade. O que isso representa para mim? Nada. Pra mim estou vivendo, e só. Não sou boa em jogo nenhum. Não fui a primeira da classe na faculdade, não falo inglês e entendo muito pouco de informática e até hoje não descobri em que sou boa. Nem mesmo em amar eu sou.

Mas não. Sempre vivi pelos outros. Vivi pouco, aprontei pouco, curti pouco, envelheci rápido. Tudo pra não decepcionar os meus pais, ser o maldito exemplo pro meus irmãos e primos. E não sabia eu, que os pais amam os filhos, independentemente do que fazem. Mas eu sempre fui cobrada e fiz o impossível pra não decepcionar ninguém. Se eu pudesse voltar atrás... eu viveria mais, errava mais e tirava esse peso das minhas costas.

A minha boneca era a mais bonita, meus brinquedos mais legais, e eu tinha que compartilhar. E eu adorava poder fazer, apesar de que no fim da brincadeira eu tivesse que guardar tudo sozinha... eu era a defensora das primas, das amigas e por ser tão mimada, cresci ouvindo “parece filha de rico”. Eu precisava ser aceita. É a minha família e eu não tinha culpa de ser diferente, mas me culpava. Dava meus brinquedos, emprestava minhas roupas, já apanhei sozinha e já bebi até xixi pra “ela” não ficar de mal de mim.

De repente veio a época de dificuldades. Perdi as bonecas, o lápis de cor, o giz de cera e ganhei a responsabilidade de ser a mais velha. Cuidei dos meus irmãos, e disso não arrependo, fiz com muito carinho, mas com peso sempre repetido pela minha mãe “você é a mais velha, tudo o que você fizer, seus irmãos vão repetir”, e olha que a responsabilidade veio em trio. Não escapei de casa a noite, não passei das horas na rua, não beijei no portão, não tive namorados fora do tempo, não desviei o caminho, não usei drogas, não cheirei lança perfume, não fiz manifestações, não pichei os muros e nem fiz as minhas primas passar apertado para cobrir meus namoros, pelo o contrário, era eu quem sempre dava um jeito de ajudá-las.

Hoje já vou fazer 27 anos. Não tenho um filho da adolescência, nem um ex-marido, nem um ex-namorido, nem um maço de cigarros no bolso. Mas também não tenho uma casa minha, nem meu carro, não sou uma excelente profissional e nem tenho um namorado. E por falar nisso, meus namoros duraram pouco e acabaram tudo bem. Não teve brigas, nem traumas, nem seqüelas. A minha busca pela perfeição nunca deixou que isso acontecesse. Mas também, o amor não permaneceu, nem a união e nem deixei saudade. Sinto-me uma fraude. Isso, uma fraude. Não sou boa em nada e nem sei se ainda dá tempo de ser.

Hoje eu amo, não sou amada. Estou perdida e cansada. Cansada de sempre ter que agradar alguém e nunca conseguir de verdade. Não quero tentar convencer mais a ninguém. Quero que me olhem e vejam em mim a verdade ou a possibilidade. Exaurida. É assim que me sinto hoje. Não quero nada além do que os normais querem. Não quero ser reconhecida por ninguém, nem por nada que faço. Só não quero mais ser obrigada a ter que agradar, ter que ser a perfeita. Lamento, tentei por quase três décadas. Não consegui.

Quero ter um peito pra deitar, uma mão pra me guiar. Não sou feminista. Quero alguém pra cuidar de mim, enquanto cuido dele. Quero poder fazer a minha parte, ajudar quem eu puder, trabalhar e ser ao mesmo tempo “Amélia”. Ter uma casinha, filhos, um cachorro e um companheiro. Enquanto os dias passam tranqüilos, ou turbulentos, e eu espere a real velhice chegar. Cansei da velhice precoce e da nota 10 que nunca ganhei. Sorte? Tomara. Que isso seja inexorável.

Um comentário:

Anônimo disse...

ufa.... Que desabafo...
Posso lhe dar mais 1 conselho? Tb me sentia um pouco assim, não em td claro.... por exemplo, não no amor...mas pensando em minhas "quase 3 decadas" de vida fiz uma escolha recente.... Escolhi um caminho... Parei alguns dias e tentei imaginar o que queria e como chegar em meu objetivo... E estou tentando seguir este caminho...Será dificil, mas acho que no final ficarei mais feliz, mais realizado e mais paz em minha vida.... Pois bem, o conselho que dou é o seguinte... "use filtro solar"...rsrs... Brincadeira, este conselho tb é bom,mas quero dizer para que pare, de uma pausa em seus pensamentos, e ja que se sente assim, planeje... gaste alguns dias pensando de que forma você poderá ser mais feliz e realizada... Não só no amor, mas tb na vida profissional e em família.... Quando conseguir chegar a uma conclusão, a um objetivo, você so terá que ter coragem para seguir aquele caminho... lhe garanto que sua vida será mais facil... ou melhor, menos dificil, pq de facil a vida não tem nada... Então, era isto que queria dizer... No mais, boa sorte...
Bjs
Daniel Maia - Lion (melhor assim?)